sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Como um sonho acordado

Como se a Terra corresse
Inteirinha atrás de mim
O medo ronda-me os sentidos
Por baixo da minha pele
Ao esgueirar-se viscoso
Escorre pegajoso
E sai
Pelos meus poros
Pelos meus ais
Ele penetra-me nos ossos
Ao derramar-se sedento
Nas entranhas sinuosas
Entre as vísceras mordendo
Salta e espalha-se no ar
Vai e volta
Delirante
Tão delirante
É como um sonho acordado
Esse vulto besuntado
A revolver-se no lodo
A deslizar de uma larva
Emergindo lá do fundo
Tenho medo ó medo
Leva tudo é teu
Mas deixa-me ir

Arrasta-me à côncava da funda
Do grande lago da noite
Cruzando as grades de fogo
Entre o Céu e o Inferno
Até à boca escancarada
Esfaimada
Atrás de mim
Atrás de mim
É como um sonho acordado
Esses olhos no escuro
Das carpideiras viúvas
Pelo pai assassinado
Desventrado por seu filho
Que possuiu lascivo
A sua própria mãe
E sua amante

Meu amor quando eu morrer
Ó linda
Veste a mais garrida saia
Se eu vou morrer no mar alto
Ó linda
E eu quero ver-te na praia
Mas afasta-me essas vozes
Linda

Tens medo dos vivos
E dos mortos decepados
Pelos pés e pelas mãos
E p'lo pescoço e pelos peitos
Até ao fio do lombo
Como te tremem as carnes
Fernão Mendes

Fausto, in "Por este rio acima"

Carpideira ou Bôbo da Côrte...

Ando cá a pensar com meus botões se preciso de uma carpideira, paga para chorar no meu funeral, ou se de um bôbo da corte para me fazer rir... do meu próprio destino!!!

Porque é que insisto sempre em partir os mesmos ossos?
Quando meu auto-diagnóstico me diz que já estou sarada de uma fractura, volto a cair e partir-me toda!!!

Esta a tornar-se um caso crónico...